Loading spinner
FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA

Companhias debatem proposta do governo de mudar lei de saneamento

Durante Fórum Mundial da Água, Abes chamou companhias para aprofundar pontos da MP que pode atrasar universalização do saneamento

20/03/2018

A proposta do Governo Federal de fazer alterações na lei 11.445 - o marco regulatório do saneamento - por meio de Medida Provisória foi debatida no início da noite desta segunda-feira (19) por representantes das companhias estaduais de saneamento, na Feira do Fórum Mundial da Água, em Brasília.

O debate foi promovido pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), que tem se posicionado contra alguns pontos da MP. O mais grave, para a Abes, é o artigo 10A que obriga o poder concedente - as prefeituras - a fazer chamamento público na contratação do serviço de saneamento. Hoje, a lei 11.445 apresenta às prefeituras três opções para a operação dos serviços: ficar a cargo da própria prefeitura, fazer a contratação de companhia estadual, por meio de contrato de programa, ou abrir licitação para contratação de empresa privada.

“Com o artigo 10A, as empresas privadas passarão a ter prioridade e vão se interessar apenas pelos municípios superavitários e, aqueles que são deficitários, ficarão a cargo das prefeituras e das companhias estaduais. Hoje, a prática do subsídio cruzado possibilita às empresas estaduais promover o atendimento a esses municípios pequenos. Com essa alteração, os resultados serão catastróficos para as populações mais pobres porque não haverá recursos para essas localidades”, disse o presidente da Abes, Roberval Tavares de Souza.

Segundo ele, a Abes propôs ao Governo Federal que a MP seja substituída por um Projeto de Lei para que o debate seja feito no Congresso. Em 7 de novembro, a Abes e presidentes de companhias estaduais, entre eles o presidente da Sanepar, Mounir Chaowiche, apresentaram as propostas do setor ao Ministério das Cidades, com as devidas justificativas. “Concordamos que a lei do saneamento sofra alterações, mas queremos debatê-las. Afinal, não se pode fazer mudanças de tal envergadura por meio de MP, sem um amplo debate”, disse Roberval.

O presidente da Abes citou o exemplo de Manaus, que é a única cidade superavitária no Amazonas e que há 20 anos passou a ter o sistema de saneamento operado por empresa privada. “Sem o subsídio cruzado, não tem como investir no saneamento no Estado. Hoje, mais de 50% das cidades do Amazonas não tem sistema de abastecimento de água. Com o artigo 10A, teremos a repetição disso em muitos estados”.

O superintendente de Planejamento Integrado da Sabesp, Dante Ragazzi Pauli, enfatizou que a Abes e as companhias estaduais estão dispostas a debater melhorias no setor em todo o País, mas não por meio de MP. Ele apontou também um segundo ponto da MP que merece ser melhor discutido: a regulação do setor por órgão federal. “É positivo termos um mínimo de ordenamento federal para o setor, embora a Agência Nacional da Água (ANA) tenha uma atuação de primeira linha precisamos discutir melhor isso”, disse.

O diretor da Abes Alceu Bitencourt também defendeu um debate amplo para o setor. “Sabemos que o setor tem muito a melhorar, mas apesar das dificuldades temos um padrão operacional razoavelmente bom, que funciona. E seria uma irresponsabilidade colocar em risco essa estrutura que funciona. Existem muitas formas de alteração, a União tem papel importante no desenvolvimento de padrões de operação dos serviços e da regulação, mas isso não se faz dessa maneira. É uma discussão importante e podemos avançar nela”.

Galeria de fotos

180320_-_forum_mundial_da_agua_-_debate_mp_do_saneamento_3.jpeg
180320_-_forum_mundial_da_agua_-_debate_mp_do_saneamento_2.jpeg
180320_-_forum_mundial_da_agua_-_debate_mp_do_saneamento_1.jpeg